terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Cortina de Miçangas

Você colocou uma cortina de miçangas entre nós. Cortina de miçangas que dá pra ver um pouco do que está do outro lado, mas não tudo.
Eu estou aqui de porta aberta, deitada no sofá, te convidando e esperando você entrar. Você está aí, na entrada de casa, segurando a porta entreaberta e conversando comigo, sem saber ao certo se entra ou não. Sem saber se fica por mais alguns minutos ou se vai embora sem dizer nada.
Em algum momento, com cautela, você decidiu entrar e trespassar a cortina de miçangas e me olhou com olhos de amizade. Olhos que transmitiam uma mensagem de cor azul claro como o céu.
De repente, assim no tempo de um piscar de olhos, toda magia criada na minha cabeça, todos os sonhos, desvanesceu.
Fiquei um pouco em choque no começo, um processo interno que talvez você entenderia, já que me conhece tão bem. E esperançosa como sou, ainda fiquei com aquele gostinho amargo do fim na boca, depois que você foi embora. Ainda deixei comigo minhas utopias, que se tornam ouro com o passar do tempo.
Mas, em algum momento daquele fim de semana de dezembro, eu consegui te deixar pra trás. O seu novo corte de cabelo me ajudou a te esquecer. As nossas atitudes perante o outro também deixaram minha mente mais azul cor do céu. Por fim, fiquei feliz de você ter tido coragem de passar a cortina de miçangas entre nós, ficar de pé do meu lado do sofá e dito com a sinceridade que as boas amizades pedem: 
- Quero compartilhar uma coisa contigo. Afasta aí pra eu sentar do teu lado. 
Aturdida, inexpressiva, vi aquela cena e demorei alguns segundos para raciocinar. Então levantei e respondi:
- Senta aí, vou pegar um vinho pra gente tomar.